domingo, 9 de maio de 2010

Livro "SETE SÉCULOS NO MAR (XIV a XX)"


Esta obra da autoria de José Eduardo de Sousa Felgueiras, foi apresentada pelo autor na passada 6ª feira, dia 7 de Maio, na Cooperativa Cultural de Fão.
José Felgueiras, tem sido desde sempre, um homem apaixonado pela cultura marítima e piscatória, especialmente a da sua terra, que é Esposende.
Da junção desta paixão com o seu interesse por história resultou este trabalho, editado em três volumes pelo Centro Marítimo de Esposende Forum Esposendense:

I – Notícia histórica dos Estaleiros de Esposende e Fão
II – Os Mareantes, Construtores, Fabricadores e os Armadores
III – A Construção de Embarcações


Neste estudo são abordadas em profundidade algumas questões relevantes para Fão como a peculiar orientação geográfica do Cávado no estuário (eixo Sul-Norte), as oscilações de riqueza entre Fão e Esposende ao longo do tempo, a importância de Fão na origem de Esposende, actividades comerciais marítimas, importância dos estaleiros no transporte de mercadorias, origem dos comandantes de embarcações em Fão, etc.

O autor sustentou este trabalho numa exaustiva pesquisa de documentação, que envolveu a consulta de arquivos nacionais e locais como o da Misericórdia de Fão.

Na minha opinião este trabalho ajuda a preencher uma lacuna de informação histórica que parece existir nas monografias de Fão, que normalmente abordam as suas origens até ao século XII de depois passam para séculos mais recentes e documentados.

O autor terminou a sua apresentação com a revelação de que há fortes indícios de ter partido de Fão uma armada integrada na operação militar da conquista de Lisboa, levada a cabo por D. Afonso Henriques, em parceria com uma força militar de Cruzados, que na altura se dirigia para a Terra Santa.

Foi referido que esta hipótese está a ser estudada por um grupo vários investigadores.

Este conjunto de três volumes, com preço de 40 €, está disponível para venda no Centro Marítimo de Esposende Forum Esposendense.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Praia de Fão com Bandeira Azul em 2010


Segundo adianta o JN, a praia de Fão vai ter Bandeira Azul, este ano, pertencendo assim a um total de 240 praias distinguidas com este galardão.

Segundo o presidente da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), José Archer, este número de praias representa um aumento de 14 face ao ano transacto, 13 das quais na zona Norte, e reflecte a crescente preocupação demonstrada por todos os portugueses em preservar a orla costeira nacional.

Este dirigente referiu também que este galardão é também um elemento de estímulo à educação ambiental e está a dar os seus frutos, que se reflectem no facto de mais de 50% das praias nacionais já terem Bandeira Azul.

O Programa da Bandeira Azul da Europa iniciou-se à escala europeia, em 1987, integrada no programa do Ano Europeu do Ambiente.

As Bandeiras Azuis são atribuídas todos os anos a praias e portos de recreio. Para tal cada praias/porto candidato deve cumprir vários critérios: ambientais, conforto, segurança e informação dos utilizadores.

Parabéns a todos os que tornaram possível esta distinção à nossa praia.

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Lista de Critérios para atribuição de "Bandeira Azul"
(resumo da publicação "Guia de Interpretação dos Critérios Bandeira Azul")

– Existência de informação afixada na zona balnear (incluindo localização cartográfica) e inserida no material de divulgação (p. ex. dirigida a turistas), sobre áreas ecologicamente sensíveis (da costa, do rio, do lago), bem como sobre o comportamento a assumir nessas áreas (incluindo Áreas Protegidas) quando for o caso.

– Existência, na zona balnear, de informação actualizada sobre a qualidade da água balnear numa forma facilmente compreensível pelo público.

– Existência de informação sobre o Programa Bandeira Azul numa forma facilmente compreensível pelo público.

– Afixação na zona balnear e em todos os seus acessos das normas que regulamentam a sua utilização, bem como de um código de conduta para essa área. Esta informação deve estar também disponível nos postos de informação ao público.

– O Município e o Operador Nacional para a Bandeira Azul devem, em conjunto, assegurar a realização de, pelo menos, cinco actividades de educação ambiental, que directa ou indirectamente abordem o ambiente marinho e costeiro, fluvial ou lacustre.

– Cumprimento de todas as normas e legislação sobre a Qualidade das Águas Balneares.

Ausência absoluta de descargas de águas residuais industriais ou urbanas na área da zona balnear, assim como nas zonas envolventes que comprovadamente afectem directamente a mesma. Caso existam descargas de outras águas na zona balnear (ex. linhas de água, águas pluviais) deve ser comprovado que elas não afectam a qualidade das águas balneares.

– A comunidade em que a zona balnear se encontra integrada tem de estar de acordo com as normas e legislação relativas ao tratamento de águas residuais, designadamente com a Directiva 91/271/CEE relativa às Águas Residuais Urbanas, com a redacção que lhe foi dada pela Directiva 98/15/CE da Comissão, transposta para a legislação nacional pelo Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de Junho, com a alteração que lhe foi introduzida pelo Decreto-Lei n.º348/98, de 9 de Novembro.

Inexistência de acumulação anormal de algas ou de restos de materiais vegetais arrastados pelo mar na zona balnear, excepto quando a referida vegetação se destinar a um uso específico, se encontrar num local destinado para esse efeito e não perturbar o conforto dos utentes da zona balnear.

– Deverá ser estabelecido um comité de gestão da zona balnear responsável por coordenar a implementação o sistema de gestão ambiental e realizar auditorias subjacentes dos equipamentos destas.

– No caso de zonas marítimas deve existir um Plano de Ordenamento da Orla Costeira publicado e com Plano de Praia à escala 1/2.000, para a praia onde se integra a zona balnear. As actividades que aí se desenvolvem têm de estar de acordo com o Plano de Praia. Nas praias fluviais deve existir um Plano de Ordenamento para a zona balnear fluvial e as actividades que aí se desenvolvem têm de estar de acordo com o referido Plano.

Limpeza diária da zona balnear e zona envolvente durante a época balnear.

– Existência na zona balnear de recipientes para os resíduos sólidos urbanos (“lixo”), seguros, em boas condições de manutenção e regularmente esvaziados. Os resíduos recolhidos na zona balnear têm de ter um destino final adequado em infra-estruturas devidamente licenciadas.

- Na zona balnear deve existir equipamento para recolha selectiva de materiais recicláveis.

– Existência de instalações sanitárias em número suficiente e em boas condições de higiene, com destino final adequado das suas águas residuais em conformidade com os requisitos do critério n.º 9 (I).

- Na área da zona balnear e na envolvente não podem existir as seguintes actividades:
. Circulação e estacionamento de veículos não autorizados ou fora das zonas autorizadas;
. Competições de automóveis ou de outros veículos motorizados;
. Descarga de entulhos; e
. Campismo não autorizado.

– As leis nacionais relativas a cães, cavalos e outros animais domesticados (mesmo que vadios) devem estar devidamente expostas e têm de ser cumpridas na zona balnear. O acesso destes animais à zona balnear deve ser proibido e controlado.

– Todos os edifícios e equipamentos existentes na zona balnear têm de se encontrar em boas condições de conservação.

– A comunidade local/Município deve promover a utilização de meios de transporte sustentáveis para acesso à zona balnear, tais como bicicleta, transportes públicos e existência de zonas pedonais.

– Existência de um Serviço de Assistência aos Banhistas compreendendo os meios humanos (nadadores salvadores) e materiais (equipamento de vigilância, de comunicação, de salvamento, de primeiros socorros a nível do nadador salvador, de sinalização e de informação).

– Existência de serviço de primeiros socorros, devidamente assinalado. A instalação pode ser fixa ou móvel (tenda, caravana, ou estrutura desmontável).

– Deve existir uma gestão dos diferentes usos e utentes da zona balnear, de modo a prevenir conflitos e acidentes. Se existirem áreas ecologicamente sensíveis na envolvente da zona balnear dever-se-ão implementar medidas que previnam impactes negativos sobre as mesmas, resultantes da sua utilização pelos utentes ou do tráfego para a zona balnear.

– Existência de Planos de Emergência e mecanismos para aviso da população em tempo útil, no caso de se prever ou de se constatar a poluição da zona balnear ou de esta se tornar insegura para os utentes.

– O acesso à zona balnear deverá ser seguro e adequado.

– Existência de uma fonte de água potável devidamente protegida.

– Pelo menos uma das zonas balneares do Município tem de estar equipada com rampas e instalações sanitárias para deficientes motores, excepto quando a topografia do local não o permitir. Nos casos em que o Município apenas tem uma zona balnear com Bandeira Azul, esta tem de cumprir os requisitos acima referidos. Após a total implementação dos POOC todas as zonas balneares têm de possuir estas instalações, excepto no caso referido.

– Existência de um mapa da zona balnear galardoada com indicação dos vários equipamentos disponíveis.

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Porto Editora em crescimento


Esta editora anunciou a realização de um acordo de promessa de compra e venda da Editora Bertrand (Pergaminho, Quetzal, Temas e Debates e ArtePlural Edições), da Distribuidora Bertrand, das Lojas Bertrand e do Círculo de Leitores.

Este grupo , de família fangueira, liderado por Vasco Teixeira, passa a ser assim o segundo maior de Portugal, a par do grupo Leya (que engloba mais de 20 editoras).

Estes dois grupos passarão a dominar cerca de 50% do mercado editorial nacional.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Poeta Abel Maria Vinhas dos Santos


Este distinto poeta fangueiro está referenciado num Artigo, no Jornal de Esposende, da autoria do dr. Bernardino Amândio, que vale a pena ler com atenção.

Apesar de falecer muito novo, com 28 anos apenas, este professor primário publicou em jornais e também em livro, tendo igualmente colaborado com Ernestino Sacramento, na escrita de poemas para canções de revistas fangueiras.

Os seus livros publicados são:

Cantares
[S.l. : s.n.], 1933 ( Espozende : -- Tip. Espozendense)
33 p. ; 17 cm

O lobisomem : conto
[S.l. : s.n.], 1937 ( Espozende : -- Tip. Cávado)
14 p. ; 12 cm

Riso morto : sonetos
[S.l. : s.n.], 1936 ( Esposende : -- Tip. Cávado)
50 p. ; 21 cm

Auto-aprendizagem da leitura e escrita : trabalho original adaptado à escola portuguesa / Dâmaso Carreiro ; des. Vinha dos Santos.
[S.l. : s.n.], 1936 ( Porto : -- Tip. Invicta)
12 p. il. ; 24 cm

Para quando a publicação da sua obra?

domingo, 2 de maio de 2010

Praia de Fão em risco


A emissão de 29 de Abril de 2010 do Biosfera, na RTPN, abordou em profundidade a situação da orla costeira portuguesa e entre várias situações foi abordada a da praia de Fão.

Maria Grego começou por enunciar algo que sintetiza o actual estado de coisas: 67% do litoral português está em risco.

A Costa do nosso parque Natural Litoral Norte, que corre toda a zona desde Viana do Castelo até ao sul de Fão/Esposende não é excepção.

A arriba da praia de Ofir, a sul do esporão, recuou 3 metros, só neste Inverno.
As Torres, que incluem 114 apartamentos e 15 espaços comerciais, hotel e algumas residências encontram-se assim em zona de risco, e cada vez mais susceptíveis.
O engº José Sócrates falou em demolições há 8 anos, em 21 Fev 2002, numa entrevista à TSF anunciou então a intenção de iniciar um processo de destruição destas torres, de 15 moradias implantadas no cordão dunar e da frente do Hotel Ofir, parcialmente construído sobre a praia. Contudo este processo parou devido à impopularidade e controvérsia gerada.

Todos os anos Portugal perde costa. Este ano não escapou à regra. A orla litoral está com muita falta de areia provocada pela forte ondulação, recuo natural e causas antrópicas como: construção de barragens, extracção de areias, construção costeira desenfreada e alterações climáticas.

Na zona norte, em temporal, a ondulação chega aos 8 metros na costa e o mar arrasta anualmente 2 milhões de m3 de sedimento.

Vejamos então exemplos concretos ao longo do país, que retratam a situação da orla costeira:
Nas zonas de Mafra e Sintra, 50 arribas estão em situação de derrocada eminente. Na Aguçadoira em dois anos a arriba recuou 6 metros.
No dia 21 de Agosto de 2009, em Albufeira na praia Maria Luisa, o aluimento de uma arriba tirou a vida a 5 pessoas.
Na praia da Fuzeta no Algarve foram destruídas este ano 44 casas das 71 casas existentes. Também as construções na praias de Faro, ilha de Cabanas e na ilha da Barreta estão em risco. Só no Algarve já foram intervencionadas 14 praias em desmantelamento, reforço e sinalização de arribas.
Em Quarteira, a praia mais afectada do Algarve, só entre Janeiro e Março de 2010, perderam-se 15 m de areal.
Entre Esmoriz e Vagueira estão 4000 casas em perigo.

Segundo Renato Henriques, investigador do Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho a arriba da praia de Ofir, a sul do esporão, recuou 3 metros só neste Inverno.
Existe um fenómeno de recuo natural desde o término da pequena idade do gelo que começou final do sec. XIX. Contudo, devido à ocupação desenfreada da costa princialmente na década de 80, o recuo normal anual de 60 a 80cm foi amplificado de 4 a 5 vezes por causas antrópicas. Segundo este técnico a melhor solução seria contrariar o processo, desmontado as construções nas zonas interditas e reconstruir em zonas interiores seguras. Estas decisões políticas impopulares devem ser tomadas para equilibrar esta situação.

Na costa Algarvia a situação também não é fácil. Este foi o pior Inverno dos últimos 10 anos e 6 praias estão em alerta vermelho de segurança.

Na opinião de Delminda Moura e Óscar Ferreira, geólogos da Universidade do Algarve, as arribas (rochas do período Miocénico, com 25 milhões de anos) estão sapadas, i.e., não têm suporte por baixo, devido à acção das ondas e há o risco de desabamento. Também a água doce vinda das regas e piscinas, desfaz estas rochas carbonatadas fragilizando-as. Além disto a sobrecarga mecânica que a construção costeira exerce é mais um factor de instabilidade.
Os molhos que são construídos para proteger certas fracções da costa agravam a falta de sedimento nas zonas dadoras acelerarando a sua deterioração.
A distância de segurança relativa a uma arriba é 1,5 vezes a sua altura. Logo poucas praias existirão verdadeiramente seguras no Algarve.

Joaquim Barbosa, investigador CICGE, Fac. Ciências U.Porto esclarece que a fonte sedimentar mais importante para a costa são os rios. Contudo, devido à intensa construção de barragens travou-se esta alimentação sedimentar. O rio Douro tinha, em 1930, antes da construção das barragens a capacidade de transportar para o mar entre 1 a 2 milhões de m3 de areia.
Actualmente transporta sómente cerca de 0,25 milhões de m3. Também o problema da extracção de areias, para construção e navegabilidade dos rios, vem agravar esta situação.

Filipe Duarte dos Santos, Coordenador do PECAC, liderou um estudo promovido pela Agenda Cascais 21 e pela CM Cascais que revela que os areias das praias do concelho podem diminuir 80% até ao final do século.
No século passado o nível do mar subiu cerca de 15 cm (1,5 mm /ano). Contudo nos últimos 10 anos este valor subiu para 2,5 mm/ano. A direcção das ondas está também a rodar no sentido horário, i.e., estão a ficar mais paralelas à costa ocidental portuguesa o que intensifica a remoção de sedimentos de Norte para Sul.

Há falta de sedimentos na orla costeira e esta carência está a ser remediada com a construção de esporões e enchimento artificial de algumas praias para a salvaguardar temporariamente.

É necessário que nós e o poder político decidamos o que queremos fazer. Vamos manter a costa ou vamos recuar?

Para já a política tem sido tentar manter a linha de costa com engenharia pesada, em intervenções de valor avultado e nem sempre bem sucedidas, como no caso do Furadouro em que obras dispendiosas não evitaram a força destrutiva do mar.

Ao longo do tempo não foram respeitadas as faixas de risco definidas pelos técnicos nem o ordenamento do litoral e não podemos culpar só os políticos.

Dulce Pássaro, ministra do Ambiente, já anunciou o orçamento de 500 milhões de euros para a protecção do litoral português. Só para esporões e enrocamentos para protecção das zonas de risco em Ovar foram já gastos 6 milhões de euros.

Se for continuada a actual política de manutenção de costa, o deslizamento e derrocada de arribas, falésias cimentadas e enrocamentos de pedra, constituirão a paisagem da costa portuguesa no futuro e também da nossa praia.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Fão e os Caminhos de Santiago


Pois é. Como não podia deixar de ser este milenar caminho também passa em Fão. O apoio médico a peregrinos em tempos antigos está ligado aliás às origens da Misericórdia e da tradição hospitalar desta terra.

O caminhos de Santiago são percursos muito antigos, realizados desde o século IX e que são utilizados pelos peregrinos (do latim "Per Aegros", "aquele que atravessa os campos") na sua viagem até Santiago de Compostela, ao túmulo do apóstolo São Tiago, na catedral de Compostela.

Existem muitas variantes sendo os mais conhecidos o Caminho Francês e o Caminho Português.

Carlos Magno estimulou muito a peregrinação ao sepulcro do Apóstolo Tiago e deu origem ao caminho francês que obriga a muitos dias de marcha desde a longínqua França até ao Templo no norte da Galiza. Os caminhos de toda a Europa entroncam neste que por sua vez se liga ao Caminho Espanhol através do nordeste. Este percurso até Compostela é considerado património da Humanidade e Primeiro Itinerário Cultural Europeu.

O caminho Português por seu lado vem de Sul e nunca entronca com o Espanhol, a não ser, claro está, em Santiago. Portugueses tão ilustres como o conde D. Henrique (1097), Rei Sancho II (1244), conde D. Pedro (1336), rei D. Manuel I (1502) e Rainha Santa Isabel (1325) já o percorreram.

Em Portugal, a peregrinação a Santiago nunca deu origem a um caminho unificado semelhante ao francês, porém a via Lisboa-Valença com passagem por Santarém, Tomar, Coimbra, Porto, Barcelos ou Braga e Ponte Lima parece reunir um consenso de uma via possível e ancestral.

Em 1138 encontramos uma das mais antigas referências ao Caminho Português na obra do geógrafo árabe Idrisi que descreve os caminhos de Coimbra para Compostela, por mar e por terra.

Sempre que o dia 25 de Julho calha a um domingo, o que acontece em 2010, esse ano é considerado Ano Jubilar Compostelano. Assim, ganham outra grandiosidade as celebrações do Martírio do Apóstolo São Tiago e abre-se a "Porta Santa" da Catedral de Santiago de Compostela, onde está o sepulcro que contém os restos mortais do Apóstolo.

São Tiago foi um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo e nasceu na Galileia. Segundo a tradição este apóstolo visitou a Hispânia para pregar. Como não conseguiu converter os pagãos Hispânicos regressou à Galileia onde foi decapitado por Herodes Agripa em Jerusalém, no ano de 44.

Diz a lenda que o seu corpo regressou de barco à Galiza onde entrou escondido em conchas de vieira, molusco bivalve abundante nas Rias Baixas. Daí a tradição do Peregrino se fazer acompanhar de uma concha de vieira.

Mais tarde em 814, um ermita chamado Pelaio, seguiu as indicações que recebeu num sonho e descobriu um túmulo contendo umas relíquias, e estas foram de imediato veneradas e associadas a São Tiago. Sobre essa tumba viria a ser erguida a Catedral de Santiago de Compostela.

Ao longo da história a popularidade destes caminhos tem oscilado, mas creio não estar errado se disser que está a atravessar um pico. Actualmente há muita sensibilidade para as questões ambientais, para a preservação da Natureza e uma procura daquilo que é genuíno. Só neste ano de 2010, Santiago receberá 200.000 peregrinos.

Para se ser considerado um Peregrino é necessário obter um documento chamado "Credencial de Peregrino" que permite pernoitar em Albergues que existem ao longo do percurso, principalmente em Espanha. Para tal deve carimbar-se esta caderneta ao longo do caminho em cafés, establecimentos, etc.

O caminho pode ser feito a pé, de bicicleta ou de cavalo e a prioridade nos Albergues é dada pela mesma ordem. Já fiz o caminho Português três vezes sendo a primeira de bicicleta e as restantes a pé, em 2007, 2008 e 2009.

O caminho português está sinalizado com uma seta amarela pintada em muros (como a que está na fotografia), postes e noutros locais apropriados. Já em Espanha está marcado com uma vieira e também com setas amarelas. Não é por nada mas acho que as marcações portuguesas são mais eficazes. De qualquer forma este sistema funciona e chegamos mesmo a Santiago.


Marco de orientação espanhol, com a concha de vieira indicando a direcção a seguir.


Normalmente levamos uma Mochila, que não deve pesar mais que 5 kg, com tudo o que serão os nossos pertences, durante a caminhada.

Cada dia é passado a andar e normalmente fazem-se 30 km em cerca de 8 horas.

Há muito tempo para meditar, conversar, observar a natureza, o património cultural e as gentes, desfrutando desta maravilhosa experiência de liberdade e de vida.

A nossa terra faz parte deste caminho milenar e pertence a uma variante do caminho Português chamada caminho da Costa. Enquanto o caminho Português principal vai de Rates para Barcelos, Ponte do Lima e Valença, a variante da Costa desvia de Rates para Fão, Esposende, Viana, Caminha, Cerveira entroncando novamente em Valença.

A partir de Valença o caminho segue por Tui, Porrino, Redondela, Pontevedra, Briallos/Caldas de Rei, Padron e chega a Compostela.

Lá chegado o Peregrino vai obter a sua Compostelana (documento que comprova a sua chegada a Compostela), assiste à emocionante missa do Peregrino e depois vai abraçar a imagem de São Tiago.

No fim há que retemperar forças com um belo almoço, talvez no Manolo, e regressar a casa.

Vou terminar com estas palavras que li algures: "...Peregrinar é um acto de Fé. É um Caminho e como tal pressupõe um itinerário, mas não se esgota nele. Tem que se lhe associar uma intenção e um objectivo, que alimentam a motivação e despertam a busca interior, promovendo assim o enriquecimento espiritual e cultural..."

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Revistas em Fão


Os espectáculos de revista foram e ainda são um importante evento cultural e um meio de expressão de artistas locais.
Esta tradição foi, segundo o que transmitiram, criada e cimentada devido à dedicação e trabalho de Ernestino Sacramento, meu avô paterno.

Ernestino Sacramento produzia estes espectáculos: ia a revistas ao Porto, principalmente ao teatro Sá da Bandeira, descobria novas canções e fados, escolhia os artistas fangueiros que os iriam interpretar, encomendava poemas a letristas fangueiros seus amigos, como o poeta Abel Vinhas dos Santos. Chegou a alugar guarda roupa de teatro no Porto para as suas revistas.

Também era ensaiador e fazia o papel de compadre (do francês "compére"). Este elemento está sempre em cena e efectua a ligação entre os diversos números. Também constitui um elo de ligação entre os actores e o público.

Tenho cópias em papel de panfletos das seguintes revistas:

20 de Agosto de 1933 - Revista "Prá Frente ..." em 2 Actos e 14 Quadros.

10 de Setembro de 1933 - Revista "Sem Fios" em 2 Actos e 15 Quadros.

Em 1933 Ernestino Sacramento tinha já 43 anos. Daqui se pode inferir que provavelmente estaria envolvido na produção destes espectáculos há pelo menos 20 anos i.e. desde 1910. Sei que organizava espectáculos num edifício, na rua da Pedra Alta, antes da existência do Salão Paroquial.

Este trabalho foi seguido pelo seu pupilo de então, José Ribeiro Maia que passou testemunho para o Armando Barbosa.

Aqui vão informações de revistas realizadas em Fão, retiradas de um interessante artigo de Artur L. Costa, no Falcão do Minho:

15 de Setembro de 1935 - Espectáculo levado à cena por banhistas e amigos de Fão a favor dos pobres.

26 de Agosto de 1939 - Espectáculo pró Bombeiros Voluntários, também promovido por banhistas e amigos de Fão.

12 de Dezembro de 1965 - Revista “Ora Chupa que s’ apaga” a favor do Clube de Futebol de Fão, organizada por Zé Maia.

2 de Julho e 1967 - Revista “Ofir também é Fão”, de José Ribeiro Maia, para as obras de restauro do Salão Paroquial.

18 de Dezembro de 1982 - “Recordar é Viver”, para matar saudades, mas de apoio ao Clube Fãozense, com a intervenção e organização de José Ribeiro Maia.

17 e 18 de Agosto de 1996 - Revista “Fão a Cantar”, no salão dos Bombeiros Voluntários, da responsabilidade da Cooperativa Cultural, repetida a 23 de Novembro, em Apúlia.

19 e 20 de Agosto de 1997 - Revista “Fão d’ Ontem, Fão Sempre...” da responsabilidade da Cooperativa Cultural.

2 de Fevereiro de 2008 - Revista "Toma lá mais esta" de homenagem a José Ribeiro Maia pelo GATA.

Com certeza que haverá mais algumas.


De qualquer modo tive o prazer de participar na revista de Dezembro de 1982 e neste blogue podem ler os poemas de todas as canções interpretadas nesse espectáculo.