quarta-feira, 31 de março de 2010

Letras de Revista - António e Maria

Nós assim juntinhos
Vamos fazer um lindo par
Dá-me os teus carinhos
E então verás que bom vai ser casar

(Ela)
Ai António se dou nas vistas
Tu não tens por que te zangar,
Isto não é para turistas
É apenas pra te agradar.

(Ele)
Não te enfades minha Maria
Pois eu gosto muito de ti,
E quem ama também confia
Tem ciúmes como eu não vi.

Refrão
Vem pro pé de mim
Quero sentir o teu calor.
Vem mostrar-me assim
Tua afeição também e teu amor.
Nós assim juntinhos
Vamos fazer um lindo par.
Dá-me os teus carinhos
E então verás que bom vai ser casar.

(Ela)
Eu não sei bem porque és assim
Pois tu só me dás incertezas
Para fazeres como te vi
Só atendes as inglesas

(Ele)
São motivos da profissão
Tu nos quartos e eu na mesa
Mas quem leva meu coração
Há-de ser uma portuguesa

Refrão

(Ela)
As gorjetas que vou juntando
E que guardo com mil cuidados
Vou juntar ao que vais ganhando
Para quando formos casados

(Ele)
Fazes bem ó minha riqueza
Pois com isso me dás prazer
Também sei que tua franqueza
Não é só para inglês ver

Refrão

Letras de Revista - As Escadinhas

Refrão
As escadinhas assim catitas,
Com estas chitas ficam tão bem,
Muito asseadas e esfregadas,
Ai que perfume que elas têm.

Somos nós as escadinhas
De remota tradição, as escadinhas.
Sempre muito asseadas
Fresquinhas assim lavadas, no cais de Fão.

E os nossos frequentadores
Nas noites calmas de estio, as escadinhas.
Vêm em nós respirar
A aragem fresca do rio, as escadinhas.

Refrão

Quantos queixumes e lamentos
Em nós sentadas ouvimos, as escadinhas.
Dos deserdados da sorte
Que pena que nós sentimos, as escadinhas.

Para consolar os tristes
Dar alento e energia, as escadinhas.
Quem conosco conviver
Leva a vida podem crer, com alegria.

Refrão

Letras de Revista - Pátios Antigos

Refrão
Somos os pátios antigos
Dos tempos que já lá vão,
E assim tão bem tratados
E muito estimados
Por toda a gente de Fão.
Feitos de pedra e cal,
Lavrados a bons cinzéis,
Nós somos ainda do tempo,
nós somos do tempo
Do vinho dos cinco réis.
Nós somos do tempo
Do vinho dos cinco réis.
Nós somos do tempo
Do vinho dos cinco réis.

Um velho pátio caiado
Com escadinhas já gastas,
Sou eu o mais concorrido
Pelos gatos e as gatas.

Talvez seja o mais antigo
Segundo diz o papel,
Onde havia uma escola
Do pedagogo Miguel.

Que era muito frequentada
Por toda a comunidade,
Que aprendia muito bem
Só à força de tabuadas.

Segundo oiço dizer
Olhem que isto não é meu,
Guris houve que fizeram lá
O quinto ano do liceu.

Refrão

Sou eu o mais concorrido
Do que o vizinho Areosa,
Ai, ai, ai,
Do que o vizinho Areosa,

E fiquei sempre escolhido
O pátio Francisca Rosa,
Ai, ai, ai
O pátio Francisca Rosa.

Pintado de verde escuro
Tinha ao pé um lampião,
Ai, ai, ai,
Tinha ao pé um lampião,

Iluminava coitado
A rua de São João,
Ai, ai, ai
A rua de São João.

Refrão

Ó lua retira o sol
Das pedrinhas do rapaz,
Que ele chora coitadinho
Por não poder ir p’ra trás.

Chora pátio chora
E torna a chorar,
Que o velho tempo
Não torna a voltar.

Refrão

Letras de Revista - Sinos

Refrão
Oiçam a voz dos sinos,
Oiçam a voz de Deus.
Oiçam a voz dos sinos,
Que vai subindo aos céus.

Enquanto o sol lá no céu
Inunda de luz o luar,
Numa capela branquinha
Estão os sinos a tocar.

Quando tocam docemente,
Como num terno cantar
Ou é boda ou baptizado
Que eles estão a anunciar.

Refrão

À tardinha numa aldeia
Anda no ar emoção,
Soam as ave-marias
Tudo numa oração.

Sinos que são como beijos
De louvor ou de amor.
Anunciam o Natal
E a Páscoa do Senhor.

Refrão

Letras de Revista - Os Almeidas

De manhã mal começa o dia
Tenho arrelia com este murrão.
Porque pensa que é ele que manda,
Mas não manda em mim isso não.

Na limpeza das ruas da terra
Sempre me faz guerra e pega comigo.
Mas que mal lhe faria eu
P’ra este judeu me dar tal castigo.

Ai murrão, murrão,
És o meu chará,
Ai murrão murrão,
Chega-te pra lá.

Não preciso de fazer barulho
Pois tenho orgulho nesta profissão.
Mas eu sou o mais velho na arte
E por isso sou eu o mandão.

Ai João por mais que me digas
Isso são cantigas, não falas a sério.
Eu te digo que terei prazer
Em te receber lá no cemitério.

Ai João, João,
Como somos tortos,
Dou-me mal contigo,
Dou-me bem com os mortos.

Ai João, João,
Como somos tortos,
Dou-me mal contigo,
Dou-me bem com os mortos.


Nota:
Este número fala de dois varredores que existiam em Fão e que eram figuras típicas da terra. Havia uma competição entre eles. Um dos varredores era também coveiro. Lembro-me perfeitamente deste senhor, conhecido por João Coveiro, com o seu cigarro colado ao lábio, com a cara morena e engelhada, marcada pelos anos. Tinha um carrinho, que empurrava à mão e onde guardava as ervas daninhas e as suas vassouras de giesta.


Letras de Revista - Giesta

Sobre a terra, sem lamentos,
A giesta vive só,
Sacudida pelo vento
E coberta pelo pó.

É bravia mas encerra,
No seu canto de humildade,
A beleza desta terra
De amor e de saudade.

Refrão
E entre a paz que há na terra,
Quando a noite flutua,
Há giesta na serra,
À luz branca da lua.

E mesmo quando não presta
O Inverno é de temer
E aproveitam-se as giestas
P'ros velhinhos aquecer

E as faúlhas crepitando
Na lareira incendiada
Ainda está despontando
A giesta em flor dourada.

Refrão

Letras de Revista - Olha o Pinto

Refrão
Olha ó Pinto, olha ó Pinto,
Olha ó Pinto maganão.
Se este Pinto não for galo
Vai dar galinha à nação.

Olha ó Pinto, Olha ó Pinto,
Ganhou força p'ra voar.
Quem lhe deu tão grandes asas
Foi a força popular.

Só mesmo por bricadeira,
E p'ra que o povo vá rindo,
Qual seria a chocadeira
Que deu um Pinto tão lindo.

Refrão

Diz a força popular
Que o Pinto custa a crescer.
Mesmo com milho importado,
Tem muito para comer.

No aviário do Freitas
Já lá tem grandes ninhadas.
O que dá boas receitas
Nestas ricas empreitadas.

Refrão

Olha ó Pinto, Olha ó Pinto,
Ganhou força p'ra voar.
Quem lhe deu tão grandes asas
Foi a força popular.

Só mesmo por bricadeira,
E p'ra que o povo vá rindo,
Qual seria a chocadeira
Que deu um Pinto tão lindo.

Refrão



Nota:
Esta letra é uma paródia sobre o 8º Governo Constitucional, chefiado por Francisco Pinto Balsemão. Daí a referência ao Pinto.
Resultou de uma coligação do PSD com o CDS e PPM, designada AD (Aliança Democrática). Diogo Freitas do Amaral, na altura presidente do CDS, foi vice-primeiro-ministro e ministro da defesa. É este o Freitas de que se fala na paródia. Este governo foi empossado em Setembro de 1981 e foi exonerado em Junho de 1983.
Esta revista foi em Dezembro de 1982 o que quer dizer que este número foi estreado nesta revista.



Letras de Revista - Lobo do Mar

Quando eu era rapazote
Lancei a mão no meu bote
E comecei navegando
E disse ao meu timoneiro
Aquele barco é estrangeiro,
Vamo-nos dele abeirando.

E á beira dele chegado,
Veio o capitão fardado
E diz-me então de repique:
“Alô mister marinheiro,
Você que fala estrangeiro
Tem aí liquessevique?”

E eu respondi:
“Yes, Yes, capitone,
Tenho aqui mateigone
Para eu deitar no pone.”
E de tal sorte
Eu deitei rumo ao norte, ai,
E p’ra mostrar que era forte
Ainda lhe chamei “Tone”

Sempre que de casa saia
Me dirijo para o Maia,
P’ra jogar o belgicano.
Era eu sempre o primeiro
A jogar com o Padeiro,
Umas três vezes no ano.

Quando de regresso a casa,
E às vezes com um grão na asa,
E a falar línguas tais
Que tudo fica de pasmo,
Pensando que eu sou um asno,
Mas eu sou esperto demais.

E na refrega,
Liquessevique escorrega,
Se o peixe pega e não pega
Eu chego a desesperar
Com tais desgraças
Tiro mais duas fumaças, ai,
Dou à linha vinte braças
E depois é que é pescar.

=== Instrumental ===

Com tais desgraças
Tiro mais duas fumaças, ai,
Dou à linha vinte braças
E depois é que é pescar.

Letras de Revista - Ondas

Somos as ondas que de manso vêm,
Como filhas inconstantes do mar.
Dizer à areia do que no seio tem,
Segredos loucos de enfeitiçar,
Ondas sonhos de alguém.

Refrão
Quando o sol vai raiar, raiar [no mar]
Somos as ondas que vêm e sem [que alguém]
Nos possa ver fazer e desfazer
Ondas que vem e vão assim em turbilhão

E em noites lindas de luar
Brancas de neve leve vimos nós cantar
[E em noites lindas de luar
Brancas de neve leve vimos nós cantar]

Somos as ondas sempre cativas,
Que docemente beijam a praia.
Vagas desfeitas,
Ilusões perdidas,
Numa tarde que desmaia em tantas despedidas.

Refrão

E em noites lindas de luar
Brancas de neve leve vimos nós cantar
[E em noites lindas de luar
Brancas de neve leve vimos nós cantar]


Revista de 1982

Esta revista foi apresentada no Salão Paroquial, em Dezembro de 1982. Penso que depois se fez uma repetição do espectáculo em Janeiro de 1983.

O espectáculo foi ensaiado pelo José Maia, auxiliado pelo Barbosa, segundo me recordo.

As canções que tenho gravadas são:

- Ondas
- Lobo do Mar
- Curandeiros
- Marmelos
- Os Pintos
- Giesta
- Os Almeidas
- Sinos
- Pátios
- Estou Chegando
- Cávado
- António e Maria
- Fangueirinha
- Ninhos
- Ir Atrás Dos Homens
- Coreto, Banco de Pau, Banco de Pedra (Noites de Inverno)
- Vindimas
- Fogareiro e Assadeira
- Fado
- Salva Vidas
- Pra Praia
- Serões
- Fão

Creio que ainda não encontrei uma cassete com mais alguns temas. Na altura fiz cópias para muitas pessoas e se algum Fangueiro tiver gravações de mais canções além destas informe-me pf.

Regresso a Fão






Andei por muitos lugares. Viajei. Experimentei e vivi.

Há algum tempo descobri umas cassetes antigas, já a cheirar a mofo... Coloquei-as num leitor e ainda se conseguiam ouvir. A data era 1982 e continham umas músicas antigas que eu tinha gravado ... em Fão ... num espectáculo de revista ... Comecei a ouvi-las e fiz uma viagem no tempo ...

Essa viagem fez-me recordar os meus pais e momentos da minha juventude, onde não trocava Fão por nada deste mundo.

Lembrei-me de estar a tocar violão na orquestra dessa revista, com o meu querido pai Manuel Sacramento, conhecido em Fão como Né Glória, o Américo Carvalho ... com o meu tio Mário Belo e o João Senhorinha nas guitarras ... e também com os meus amigos na altura Armando Reis, Rui Campinha, Paulo Campinha, ...

Aliás o aparelho com que fizemos as gravações foi o do Armando Reis, a quem chamávamos Mandinho, já na altura um hi-fi de elevada qualidade.
E surgiu no meu coração aquele sentimento esquecido, aquela paixão arrebatadora por essa terra mística. Fão. Terra dos meus pais e minha terra também.
A vida tem destas coisas e acho que estou apaixonado ... por Fão.

Este blog vai conter pensamentos, informações e sei lá mais o quê ... desde que sejam sobre Fão e sobre este redescoberto amor pela minha terra, pelas suas tradições, paisagens e gentes.

Bem hajam Fão e os fangueiros,