Pois é. Como não podia deixar de ser este milenar caminho também passa em Fão. O apoio médico a peregrinos em tempos antigos está ligado aliás às origens da Misericórdia e da tradição hospitalar desta terra.
O caminhos de Santiago são percursos muito antigos, realizados desde o século IX e que são utilizados pelos peregrinos (do latim "Per Aegros", "aquele que atravessa os campos") na sua viagem até Santiago de Compostela, ao túmulo do apóstolo São Tiago, na catedral de Compostela.
Existem muitas variantes sendo os mais conhecidos o Caminho Francês e o Caminho Português.
Carlos Magno estimulou muito a peregrinação ao sepulcro do Apóstolo Tiago e deu origem ao caminho francês que obriga a muitos dias de marcha desde a longínqua França até ao Templo no norte da Galiza. Os caminhos de toda a Europa entroncam neste que por sua vez se liga ao Caminho Espanhol através do nordeste. Este percurso até Compostela é considerado património da Humanidade e Primeiro Itinerário Cultural Europeu.
O caminho Português por seu lado vem de Sul e nunca entronca com o Espanhol, a não ser, claro está, em Santiago. Portugueses tão ilustres como o conde D. Henrique (1097), Rei Sancho II (1244), conde D. Pedro (1336), rei D. Manuel I (1502) e Rainha Santa Isabel (1325) já o percorreram.
Em Portugal, a peregrinação a Santiago nunca deu origem a um caminho unificado semelhante ao francês, porém a via Lisboa-Valença com passagem por Santarém, Tomar, Coimbra, Porto, Barcelos ou Braga e Ponte Lima parece reunir um consenso de uma via possível e ancestral.
Em 1138 encontramos uma das mais antigas referências ao Caminho Português na obra do geógrafo árabe Idrisi que descreve os caminhos de Coimbra para Compostela, por mar e por terra.
Sempre que o dia 25 de Julho calha a um domingo, o que acontece em 2010, esse ano é considerado Ano Jubilar Compostelano. Assim, ganham outra grandiosidade as celebrações do Martírio do Apóstolo São Tiago e abre-se a "Porta Santa" da Catedral de Santiago de Compostela, onde está o sepulcro que contém os restos mortais do Apóstolo.
São Tiago foi um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo e nasceu na Galileia. Segundo a tradição este apóstolo visitou a Hispânia para pregar. Como não conseguiu converter os pagãos Hispânicos regressou à Galileia onde foi decapitado por Herodes Agripa em Jerusalém, no ano de 44.
Diz a lenda que o seu corpo regressou de barco à Galiza onde entrou escondido em conchas de vieira, molusco bivalve abundante nas Rias Baixas. Daí a tradição do Peregrino se fazer acompanhar de uma concha de vieira.
Mais tarde em 814, um ermita chamado Pelaio, seguiu as indicações que recebeu num sonho e descobriu um túmulo contendo umas relíquias, e estas foram de imediato veneradas e associadas a São Tiago. Sobre essa tumba viria a ser erguida a Catedral de Santiago de Compostela.
Ao longo da história a popularidade destes caminhos tem oscilado, mas creio não estar errado se disser que está a atravessar um pico. Actualmente há muita sensibilidade para as questões ambientais, para a preservação da Natureza e uma procura daquilo que é genuíno. Só neste ano de 2010, Santiago receberá 200.000 peregrinos.
Para se ser considerado um Peregrino é necessário obter um documento chamado "Credencial de Peregrino" que permite pernoitar em Albergues que existem ao longo do percurso, principalmente em Espanha. Para tal deve carimbar-se esta caderneta ao longo do caminho em cafés, establecimentos, etc.
O caminho pode ser feito a pé, de bicicleta ou de cavalo e a prioridade nos Albergues é dada pela mesma ordem. Já fiz o caminho Português três vezes sendo a primeira de bicicleta e as restantes a pé, em 2007, 2008 e 2009.
O caminho português está sinalizado com uma seta amarela pintada em muros (como a que está na fotografia), postes e noutros locais apropriados. Já em Espanha está marcado com uma vieira e também com setas amarelas. Não é por nada mas acho que as marcações portuguesas são mais eficazes. De qualquer forma este sistema funciona e chegamos mesmo a Santiago.
Marco de orientação espanhol, com a concha de vieira indicando a direcção a seguir.
Normalmente levamos uma Mochila, que não deve pesar mais que 5 kg, com tudo o que serão os nossos pertences, durante a caminhada.
Cada dia é passado a andar e normalmente fazem-se 30 km em cerca de 8 horas.
Há muito tempo para meditar, conversar, observar a natureza, o património cultural e as gentes, desfrutando desta maravilhosa experiência de liberdade e de vida.
A nossa terra faz parte deste caminho milenar e pertence a uma variante do caminho Português chamada caminho da Costa. Enquanto o caminho Português principal vai de Rates para Barcelos, Ponte do Lima e Valença, a variante da Costa desvia de Rates para Fão, Esposende, Viana, Caminha, Cerveira entroncando novamente em Valença.
A partir de Valença o caminho segue por Tui, Porrino, Redondela, Pontevedra, Briallos/Caldas de Rei, Padron e chega a Compostela.
Lá chegado o Peregrino vai obter a sua Compostelana (documento que comprova a sua chegada a Compostela), assiste à emocionante missa do Peregrino e depois vai abraçar a imagem de São Tiago.
No fim há que retemperar forças com um belo almoço, talvez no Manolo, e regressar a casa.
Vou terminar com estas palavras que li algures: "...Peregrinar é um acto de Fé. É um Caminho e como tal pressupõe um itinerário, mas não se esgota nele. Tem que se lhe associar uma intenção e um objectivo, que alimentam a motivação e despertam a busca interior, promovendo assim o enriquecimento espiritual e cultural..."